
Provavelmente, eu não sei tanto sobre você.
Não me aflige não saber.
Não saber, na verdade, me salva.
Não saber, de uma forma bem sarcástica, é minha garantia.
Não saber, só me faz tomar ciência de que sou o tipo de mulher
Que se deixa decifrar facilmente
E não acredito que somos todos tão misteriosos assim.
Mas permitir é uma escolha
Assim como conviver, ser amigo, amar.
Se permito tão fácil e tão simples,
É também pela qualidade do tempo.
Do amor
Que me sopra que ninguém aproveitou tanto do agrado
Das luzes
Da gentileza
E das sopas de letrinhas da forma como você se lançou.
Tempo do amor, eu dizia.
Ou vaidade deslavada.
E você, homem lindo, já compreendeu
Percebeu
Retribuiu
E se esquiva ou se esconde
Ou talvez não tenha confiança ou carinho ou amizade suficiente por mim
A ponto de se deixar penetrar.
Do equilíbrio entre o sim e o não
É que talvez se explique o fato de que nós dois juntos
Consigamos nos preservar sem tantos espinhos.
Daquelas equações improváveis
Daqueles nós insolúveis
Daqueles casos descartados
Que se alimentam da improbabilidade
De perceber a beleza que sempre existiu
Mas nunca foi provocada.